01 janeiro 2012

CONTRIBUTOS PARA UMA REVOLUÇÃO




As revoluções não morrem, permanecem apenas em estados letárgicos para eclodirem quando se altere de forma insustentável o equilíbrio de forças que une as sociedades ao poder que elegeram ou lhes foi imposto. Mexer sem cuidado em alguns desses equilíbrios, pode, sem que menos se espere, desencadear a eclosão da fúria e da revolta. Foi assim que assistimos com espanto a revoluções que começaram pela morte de um vendedor de rua, ou o espancamento de um jovem, ou a prisão de um delinquente. Esse estado de equilíbrio não é mensurável, é imperceptível porque a revolta é dia-a-dia abafada individualmente em cada um, até um dia. E há de facto um dia, um dia como aquele que vemos muitas vezes na natureza ser o da eclosão simultânea de cada ser. Mistérios da Vida. Gestações cronometradas. Algumas dão sinais, outras espantam pela acção consertada da regeneração que empreendem. O seu êxito depende depois de factores externos, umas vezes favoráveis outras adversas, mas em maior ou menor grau garantiram a renovação.
Da mesma forma, as revoluções não acabam enquanto existirem razões que as justifiquem, ou seja, a regeneração das sociedades autistas à realidade humana que as cerca, criada pelos seus egoísmos. Não serão estas 100 mil famílias, inquilinas de avançada idade, a quem o governo, interpondo-se numa atitude inédita, vai obrigar a rasgar contratos de arrendamento feitos de boa fé, que farão a revolução, mas serão, quando começarem a ser desenraizados pelo desalojamento das acções de despejo que vão seguir-se, mais uma parte dos que estão prontos a aceitá-la, e vão estar certamente na primeira fila quando chegar o momento de atirar as pedras e a tralha que estiver à mão.

Destaques: Jornal de Negócios de 27/12/11

Reeditado para deixar uma reflexão sobre o tema. Um artigo de Daniel Oliveira, no Expresso: http://aeiou.expresso.pt/escrever-direito-por-linhas-direitas=f595853

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