CONTRIBUTOS PARA UMA REVOLUÇÃO
As revoluções não
morrem, permanecem apenas em estados letárgicos para eclodirem quando se altere
de forma insustentável o equilíbrio de forças que une as sociedades ao poder que
elegeram ou lhes foi imposto. Mexer sem cuidado em alguns desses equilíbrios,
pode, sem que menos se espere, desencadear a eclosão da fúria e da revolta. Foi
assim que assistimos com espanto a revoluções que começaram pela morte de um
vendedor de rua, ou o espancamento de um jovem, ou a prisão de um delinquente.
Esse estado de equilíbrio não é mensurável, é imperceptível porque a revolta é
dia-a-dia abafada individualmente em cada um, até um dia. E há de facto um dia,
um dia como aquele que vemos muitas vezes na natureza ser o da eclosão
simultânea de cada ser. Mistérios da Vida. Gestações cronometradas. Algumas dão
sinais, outras espantam pela acção consertada da regeneração que empreendem. O
seu êxito depende depois de factores externos, umas vezes favoráveis outras
adversas, mas em maior ou menor grau garantiram a
renovação.
Da mesma forma, as
revoluções não acabam enquanto existirem razões que as justifiquem, ou seja,
a regeneração das sociedades autistas à realidade humana que as cerca, criada
pelos seus egoísmos. Não serão estas 100 mil famílias, inquilinas de avançada
idade, a quem o governo, interpondo-se numa atitude inédita, vai obrigar a
rasgar contratos de arrendamento feitos de boa fé, que farão a revolução, mas
serão, quando começarem a ser desenraizados pelo desalojamento das acções de
despejo que vão seguir-se, mais uma parte dos que estão prontos a aceitá-la, e
vão estar certamente na primeira fila quando chegar o momento de atirar as
pedras e a tralha que estiver à mão.
Destaques: Jornal de Negócios de 27/12/11
Reeditado para deixar uma reflexão sobre o tema. Um artigo de Daniel Oliveira, no Expresso: http://aeiou.expresso.pt/escrever-direito-por-linhas-direitas=f595853
Destaques: Jornal de Negócios de 27/12/11
Reeditado para deixar uma reflexão sobre o tema. Um artigo de Daniel Oliveira, no Expresso: http://aeiou.expresso.pt/escrever-direito-por-linhas-direitas=f595853
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