14 outubro 2010

UM PAÍS EM PERMANENTE RECREIO

A crer no que se debate,  o país não tem grandes problemas: temos uns submarinos por pagar, um défice que se resolve tramando uma parte dos funcionários públicos, umas dúvidas já resolvidas em relação à localização do futuro aeroporto de Lisboa, o momento mais adequado para avançar com o TGV e pouco mais.
O sector privado tem um problema de competitividade? Isso resolve-se, na impossibilidade de recorrer às desvalorizações para salvar as empresas da mão-de-obra barata congelam-se os ordenados, liberaliza-se o despedimento e reduzem-se os impostos pagos pela empresas. E o que fazer dos desempregados a quem se tem de pagar o subsídio do desemprego e à redução da receita do Estado. Bem isso logo se vê.
O país tem um problema na qualidade do ensino? Tem outro na dependência energética? Falta concorrência nos mercados? A economia paralela destroi as empresas que cumprem com as suas obrigações fiscais e laborais? O SNS absorve cada vez mais recursos? O país não consegue reduzir a pobreza?
Não isso não são problemas, o que tem interessado ao país durante os últimos anos foram coisas bem mais importantes, saber se Sócrates era gay, se sabia ou não falar inglês, se tinha jeito para o desenho de construção civil, se algum primo, amigo ou conhecido se tinha abotoado no Freeport, se tinha ou não ajudado o país a livrar da Manuela Moura Guedes.
Foram estes episódios e não os debates em torno dos problemas do país que preocuparam os portugueses, os nossos políticos, jornalistas, magistrados em comissão sindical e outras personagens comportaram-se como se estivessem a participar num reality show em que o único objectivo da generalidade dos concorrentes foi tentar mandar Sócrates para fora da casa. Os comunistas aliaram-se à direita e a Alegre em manifestações espontâneas contra o encerramento de serviços de saúde anacrónicos, o líder do PSD recebeu os comunistas da FENPROF em defesa da auto-avaliação dos professores, o Pacheco Pereira ficou desiludido porque a imobilização dos camiões não deu em pancadaria como tinha sucedido com o buzinão na ponte.
Ainda hoje se compararmos as estratégias sucessivas de Pedro Passos Coelho com as dos concorrentes do últimos reality show da TVI não encontramos grandes diferenças, até nem falta o jogo com segredos e a qualidade de alguns dos intervenientes no debate, como o idoso professor de direito fiscal, está muito aquém da qualidade dos concorrentes do reality show. Se a TVI meteu gémeos dentro da casa, no PSD temos um problemas de geminação na liderança, não se sabe muito bem quem manda, se Passos Coelho, se Ângelo Correia ou mesmo António Nogueira Leite.
O país não discute os problemas e andam por aí muitos idiotas, desde conhecidos sociólogos a ex-ministros das Finanças, a dizerem que o problema é José Sócrates, como se o problema não fosse o mesmo que existia quando disseram que era Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso ou Santana Lopes.
O problema é que neste país não se discutem problemas reais, tudo não passa de uma imensa farsa pois todos os que participam nos debates, desde Medina Carreira ao Ângelo Correia, nenhum deles tem qualquer problema, às vezes até ganham com os problemas do outros. É por isso que se divertem tratando o país como a casa da TVI e se comportam como falsos actores de um reality show a que os portugueses assistem, até que um dia decidam fazer zapping e mudar de canal.daqui

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