CAVACO É TUDO QUE SÁ CARNEIRO NÃO FOI
Sá Carneiro foi um contraditório herói da minha adolescência. Rompeu com o destino fácil de um advogado instalado do Norte por amor à liberdade. Esteve na Assembleia de Marcelo Caetano a defender eleições livres e liberdade de imprensa até provar que não havia emenda para o final cinzento da Primavera traída.
Continuou o combate no ‘Expresso’, o primeiro jornal moderno português, que custava 3$50 e que eu ia comprar com excitação para ler o ‘Visto’ quando a censura não o cortava. Esteve no Portugal de Abril a defender, ao lado de Soares, a rápida consolidação democrática, assumia como referências Olof Palme e Willy Brandt e o jornal da sua JSD chamava-se ‘Pe-lo Socialismo’. Ainda recordo, tinha 14 anos, a tensão emocionada de estar com o meu pai na manifestação do Terreiro do Paço de Novembro de 1975 com Soares e Sá Carneiro de apoio à democracia. No final houve granadas de fumo para gerar confusão, mas o "povo foi sereno" e optou pela democracia e pela Europa. Sinto inconscientemente que decidi nesse tempo grande parte do que fiz nos 35 anos seguintes, como não desistir de intervir e dizer o que penso contra as habituais cobardias pragmáticas de vistas curtas.
Sá Carneiro esteve na política e na vida por paixão. Por um Portugal cosmopolita e com sentido de risco. Esteve por Snu como esteve pela liberdade. Era um burguês culto com a paixão pelas artes num tempo de mentes luminosas entre a bonomia determinada de Soares e o olhar metálico de Cunhal, mito estalinista filho da burguesia adotado pelo proletariado. Sá Carneiro disse não ao Portugal medíocre, humilde e cinzento do respeitinho pelos poderes e verdades instaladas. Perdeu-se a hipótese de um bloco social que rompesse com o Portugal conservador que nada fez por Abril e com a AD o socialismo democrático passou a contar só com Soares, Zenha e Sampaio. A sua morte deixou mito e enorme vazio. A direita de Cavaco é tudo o que Sá Carneiro não foi... e nem gostaria que fosse!
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