25 dezembro 2011

OS INDIGNADOS E A OSTENTAÇÃO DA RIQUEZA

  
Tudo indica que o capitalismo está sem resposta para os desafios que lhe estão a surgir, um pouco por todo o lado. Os "indignados" dos oitenta países que se manifestaram no último fim- de-semana constituem um sinal, entre muitos outros, do mal-estar das populações. O empreendimento totalitário do "mercado" começa a fazer emergir novas formas de cidadania, com o pessoal mais novo a repegar nas bandeiras dos seus pais e a dar um outro sentido à resistência ideológica. Os turiferários do sistema podem esbracejar contra o movimento geral de protesto, alegando que o capitalismo tem sempre encontrado formas de se renovar, mas os seus argumentos não passam de autolimitações de recurso. A verdade é que os sinais são facilmente apreensíveis e negar ou contornar esta recomposta versão da luta de classes é tapar o sol com a peneira.
Sempre que nos mobilizamos estamos a decidir. E, lentamente embora, tudo induz a uma mudança considerável de mentalidades. Os mais jovens, sendo os porta-vozes do descontentamento generalizado, não se contentam com ser sujeitos passivos daquilo que lhes impõem. Os modernos mecanismos de informação e de relação uns com os outros representam uma etapa importante dos laços sociais, reatados, com outros métodos, após décadas de manipulação e de propaganda.
A verdadeira dimensão da acção dos "indignados" é, ainda, imprevisível e, acaso, não imaginável quanto aos resultados finais; no entanto, a própria distribuição assimétrica do protesto admite o renascimento de uma certa forma de convívio. Ora, o poder sempre combateu a convivialidade para discricionariamente governar, mesmo em democracia.
Algumas débeis adaptações que o capitalismo tem feito às exigências históricas nasceram das acções conjuntas dos "indignados" dessas épocas. O "equilíbrio pelo terror", da guerra-fria, permitia algumas cedências, e uma confortável estabilização das classes trabalhadoras. A implosão do "socialismo real" e a queda do Muro inverteram, ou subverteram, como se queira, o estado de coisas. Esta situação concebeu um desafio ético, que o capitalismo ignora e espezinha, como se está duramente a ver. A ausência de discussão e de debate, a ascensão de uma Direita integrista e intolerante criaram um vácuo insuportável, a que a Esquerda não soube ou não quis dar resposta, por inércia, incompetência e traição.
Os "indignados" emergem, inorganicamente, à margem dos partidos e das organizações sindicais, pela simples razão de que não se sentem representados nem defendidos. Este tipo de iniciativas, sem fórmulas nem linhas regulamentadas, pode fazer despertar os nossos adormecimentos e as nossas fatigadas indiferenças. E repor em causa as origens dos poderes que dominam os valores morais, e nos causam desgraça, infelicidade e medo.



 


   OS Indignados e a Ostentação da Riqueza
Na realidade, até agora, parece que ninguém sabe bem (ou finge não saber) qual é a solução. O comunismo colapsou e esteve impregnado de enormes injustiças e violações de direitos humanos; o socialismo deu realmente resultados onde vigorou ou onde ainda vigora, (Serviços Nacionais de Saúde, benefícios nos sistemas de ensino, os mais diversos subsídios de auxílio às situações de precariedade, etc.) mas, entre nós, foi um dos factores - entre outros bem mais graves que, estes sim, levaram o país à pré-falência. É que os encargos respectivos assumidos pelos sistemas socialistas, infelizmente revelaram-se actualmente insuportáveis pela nossa débil economia e pelas finanças por ela geradas. O socialismo introduziu de facto muito humanismo na sociedade e na governação, mas na realidade só será suportável se forem corrigidos muitos dos desperdícios e abusos praticados em muitas áreas da nossa sociedade por agentes que de humano pouco ou nada têm. E é isso que se terá de fazer se se quiser optar definitivamente pelo humanismo entre nós.
O que fazer então para isso? Vai ter de mudar muita coisa a nível nacional e mundial. Vai ter de se introduzir uma transformação profunda no sistema económico e financeiro (principalmente no financeiro) obrigando os Bancos, através de impostos a isso destinados, a repartirem uma parte dos seus lucros em benefício dos pobres e dos desempregados que o sistema criou. Se for preciso, modificando os paradigmas das Constituições nacionais. Modificando profundamente o modo de pensar, estritamente capitalista, que já vem dos tempos da Idade Média, quando surgiram as primeiras e ainda primitivas instituições agiotas bancárias. Estas instituições e este sistema bancário chegaram ao fim se não modificarem as suas práticas, e estão a dar cabo de todas as sociedades humanas. Que reflictam de outro modo é preciso !! Criar outras instituições financeiras bem mais humanas é preciso !! Abandonar e refutar os empedernidos e egoístas modos de pensar em vigor é preciso !! Os lucros que normalmente auferem teriam chegado para isso.
Eliminar ou transformar profundamente as Bolsas mundiais onde investem os especuladores financeiros é igualmente preciso !! Estes não contribuem em nada para a produção mundial e só introduzem factores de confusão na realidade económica e financeira mundial.
É também necessário aplicar pesados e severos impostos aos rendimentos de tantos que os auferem elevadíssimos, ostentando (é o verbo adequado) essa riqueza do modo mais anticristão possível. Esses que há séculos se estão a sorrir dos pobres (que não têm culpa de terem vindo ao mundo). E reservar o resultado desses impostos directamente à prestação de serviços sociais a eles destinados e a outras medidas que estimulem o desenvolvimento económico e a criação de empregos.
É realmente necessário mudar de alto a baixo o actual modo de pensar, e introduzir - e aceitar - novos conceitos até agora repudiados e até nem sequer imaginados
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