27 dezembro 2011

A TOUPEIRA

Depois de «Deixa-me entrar», em 2008, Tomas Alfredson está de regresso com «A Topeira», filme adaptado ao livro homónimo escrito por John le Carré, publicado entre nós pela Dom Quixote (a editora disponibiliza cinco livros para os leitores do Diário Digital). Com um naipe de actores genial, o sueco oferece aos cinéfilos um filme deslumbrante, onde a melancolia paira do começo ao fim, mesmo tratando-se de um filme de espionagem. Definitivamente, um realizador a seguir…
Na reforma, George Smiley (Gary Oldman), o agente criado por Le Carré, é chamado para investigar uma toupeira, um agente duplo dos soviéticos, que se infiltrou no MI6, o serviço secreto britânico. O livro já foi adaptado pela BBC à televisão em 1979, mas ganha um novo fulgor com o trabalho de Alfredson, que consegue transportar os cinéfilos para o Mundo dos clássicos da Sétima Arte. É impossível ver «A Topeira» sem compararmos a sua realização aos grandes filmes do passado.
Apesar de ser um filme de e sobre espiões, não espere encontrar perseguições, tiros, correrias e afins, palavras obrigatórias nos filmes de hoje no entretenimento. De forma pausada, tranquila e regular, o sueco rende-se por completo à história de Le Carré e consegue transpor a essência do livro para o filme, algo que muitos poucos realizadores conseguem assumir. E esse é o melhor elogio que podemos dizer sobre «A Topeira», já que o livro é só por si uma obra-prima do suspense.
A história é hipnótica, densa e rica na sua apresentação, ao mesmo tempo que traz tempos que já lá vão de forma brilhante. O trabalho de caracterização e ambientação da época é simplesmente notável e sente-se ao longo do filme todo o suspense a rondar os personagens, um conjunto de agentes secretos que de glamour não têm nada. Aqui não há smokings, martinis ou bondgirls, mas apenas funcionários que procuram cada um fazer e dar o seu melhor, de acordo com os seus interesses patrióticos. E pessoais…
A origem do realizador é sem dúvida um dos méritos do filme. Não vemos um britânico ou norte-americano a realizar um filme assim, pois a frieza de Alfredson é a sua principal arma. Não há espaço para ceder em nenhum requisito mais sentimental, muito menos comercial. Toda a história é vazia de romantismo, de saudosismo, de sentimentalismo, como facilmente a realização poderia seguir (
e a lei do mercado poderia ditar…).

Sem comentários: