26 novembro 2009

O QUE NOS DEVE PREOCUPAR!!!


A SITUAÇÃO DA ECONOMIA DOS E.U.A. ANALIZADA POR UM ECONOMISTA BRASILEIRO QUE NOS DEVE QUESTIONAR SE ESTAREMOS A PREPARAR-NOS PARA OS CHOQUES EM CADEIA INEVITÁVEIS SE A COISA DER MESMO PARA O TORTO. ENTRETANTO VAMOS DANDO CORDA AO CASO DO SR. VARA QUE, NA QUALIDADE DE BANQUEIRO, ALGUMA SOLUÇÃO ENCONTRARÁ...
pelo Prof. Paulo Rabello de Castro Rio de Janeiro, 9 de novembro de 2009
O anúncio da taxa de desemprego de 10,2% nos EUA –– ou de 17,5% se computados os que vivem de bicos e os desalentados –– evidenciou a fragilidade da sua recuperação. Na Grande Depressão, dos anos 30, a taxa de desemprego circulou em torno de 20%, mas naquele tempo não se recebia o cheque do seguro-desemprego em casa. Fazia-se fila à porta das fábricas e nos pontos de distribuição de sopão. O tratamento mais digno e inteligente aos desempregados não significa, porém, uma vantagem da situação de hoje frente ao quadro doloroso na década de trinta. Até 2011, pelo menos, assistiremos a um quadro de riscos extremos para os americanos. E os desdobramentos, para quem deles dependa?
A armadilha do Federal Reserve, o banco central dos EUA, é do tipo “se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come”. Como um barquinho levado pela maré para o alto mar, o FED deixou a economia deslizar pelas águas ainda calmas da baía, tocada pelo juro negativo e pelo valor cadente do dólar. O monumental déficit fiscal causado pelos planos de estímulo e socorro tenta resgatar o impulso ao gasto, mas o efeito principal desses planos de intervenção é causar uma alta especulativa nas bolsas e nos mercados de commodities, onde a liquidez do fraturado sistema financeiro se concentra. Especular virou atividade subsidiada pela política monetária e pelos contribuintes. Mas o destino do barco é a boca do alto mar, onde águas turbulentas levarão os passageiros de novo ao pânico. Tal descrição nada tem de sombria ou exagerada: revela apenas o que normalmente não é dito nem publicado. Não é a versão, digamos, oficial da crise. De fato, marchamos para uma “rebolha” de ativos hiper-valorizados e que pode estourar a qualquer momento, à medida que os fundos se desfaçam de suas posições compradas, por temor de uma mudança de Ben Bernanke em relação à fraqueza do dólar.
Se ocorrer um novo ataque especulativo, desta vez será contra o dólar dos EUA. O endividamento do conjunto da sociedade americana, incluindo governo, empresas, famílias e setor financeiro, atingiu um nivel próximo a quatro vezes o total da sua produção (PIB). Tal proporção de 400% do PIB nunca antes havia sido alcançada, mesmo para financiar o esforço de guerra. Desta vez, o atoleiro de dívidas é geral. Esta é a diferença fatal. Nesse cenário, tipicamente brasileiro dos anos 80, que conhecemos tão bem, a economia americana avançará devagar e os especuladores estarão sempre prontos a apostar contra a política do FED. Quanto mais munição se lhes der, mais força terão para derrubar as comportas do dique de contenção. A munição é a liquidez abundante que o FED lhes serve agora, e a especulação tomará a forma de inflação repentina.
A inflação tem um sentido purgativo. É a forma politicamente indolor de se atribuir um imposto a quem detém dólares ou ativos equivalentes. A inflação reduz o valor real das dívidas do governo e dos indivíduos. Mas quando os preços se mexerem, o FED será obrigado a correr atrás do prejuízo maior, que é a perda da confiança no dólar como reserva de valor. Daí a armadilha citada, da qual resultará nova alta de juros e o empurrão no barco para as ondas de alto mar, com outra sequência de destruição de postos de trabalho.
A política econômica atual, no Brasil, não dá mostras de estar prevenida para um desfecho de cenário negativo em 2010. Pelo contrário, só se cogita da alternativa positiva, o que é psicologicamente muito bom, mas prudencialmente muito ruim. O Brasil não tem pára-choques contra uma segunda trombada que atinja de frente a frágil “recuperação” dos EUA e que, de tabela, interfira no delicado equilíbrio mantido até agora pela China, nossa principal compradora e razão última do sucesso que tivemos neste País até aqui. A valorização intensa do real nas semanas recentes é sinal inequívoco de que a euforia nos tomou conta. Riscos ampliados à frente
.
Em "A Destreza das Dúvidas"
Continuar a ler aqui

Sem comentários: