21 março 2010

VERDADE, VERDADE



1.Vão começar os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito que, de acordo com a coligação PSD/BE, procura apurar se o Governo interveio na operação conducente à compra de 30% da TVI e se Sócrates falou verdade quando referiu que não tinha sido informado do negócio. A Comissão é presidida por um homem digno, merecedor de todo o respeito e consideração – Mota Amaral. Vamos ver se consegue dirigir os trabalhos de uma comissão que nasce sob o signo da má-fé e por entre o ruído da mais estridente campanha ad hominem que visa apoucar o primeiro-ministro de Portugal.
Agora estamos no âmbito de uma CPI onde todas as pessoas são ajuramentadas, com regras e normas muito próximas do funcionamento de qualquer tribunal. Isto equivale a dizer, em primeiro lugar, que quem acusa deve ser obrigado a provar. E é por aí que os trabalhos devem mesmo começar. Saber quem acusa o primeiro-ministro e tirar a limpo se é uma acusação fundamentada ou um mero exercício de retórica política para achincalhar o visado. Só depois de ‘isolada’ a verdade factual é lícito avançar noutras direcções. Os administradores da PT, Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, entre outros, e os administradores da Media Capital serão pessoas decisivas neste inquérito por serem os protagonistas directos do negócio PT/TVI.
2. – A propósito e a despropósito de tudo a canzoada procura morder-me as canelas. Uns são mais corajosos que outros. Moniz pertence aos que mordem pela calada, numa pose muito cobarde, própria dos que falam pelas costas e de forma indirecta. De tanto se empertigar, confunde-me com os da sua laia. Mas há muitas diferenças. Eu nunca dirigi telejornais com o telefone do ministro ao lado a debitar sentenças e a ordenar alinhamentos. Quando dirigi estações de rádio ou de televisão fi-lo sempre de forma independente, honesta e rigorosa. Eu não faço nada para "demonstrar" que sou um entendido em audiovisual.
Contudo, não se pode apagar que pus de pé a SIC e que ao fim de dois anos e meio era líder de mercado, num projecto inovador que derrotou a RTP, sob seu comando. Como não lhe restava outra saída, abandonou a RTP e saiu em condições ultraprivilegiadas. Situação que daria lugar, nos dias que correm, a pelo duas comissões de inquérito na AR, pelos gastos inusitados do dinheiro dos contribuintes. Os meus artigos reflectem o meu pensamento e a minha leitura da situação política. A minha coerência é prova da minha independência. O mesmo não se pode dizer dos que se bamboleiam consoante a conveniência política.Emídio Rangel - in Correio da Manhã

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