03 janeiro 2011

O RETRATO DE UM APRENDIZ DE FEITICEIRO

A bolsa ou a fritadeira...
Há dias, o João Pereira Coutinho comparou o populismo de Rui Tavares, eurodeputado "independente" pelo BE, ao populismo de Valentim Loureiro, autarca "independente" em Gondomar. Se uma velha amizade (diz A.Gonçalves) me une ao João, a injusta comparação, publicada em crónica no Correio da Manhã, separa-nos.
Em primeiro lugar, porque o major Valentim distribuía as suas fritadeiras ao povo antes das eleições, o que ao menos pressupunha uma relação de confiança entre as partes. Rui Tavares só distribuiu bolsas de estudo depois de ter sido eleito para o Parlamento Europeu. Em segundo lugar, porque as fritadeiras do major eram, suponho, compradas com os ganhos privados dele. As bolsas de Rui Tavares são tiradas do salário destinado a remunerar um cargo oficial cujas funções não incluem o patrocínio educativo. Em terceiro lugar, porque, apesar do proverbial espalhafato do homem, não me recordo de ver fotografias do major ao lado dos beneficiários das fritadeiras e de uma travessa de rissóis acabadinhos de fazer. Modesto, Rui Tavares anuncia a íntima generosidade sempre que pode e posa para os jornais abraçado aos beneficiários do seu patrocínio. Em quarto lugar, porque a compra do eleitorado por parte do major mereceu vasto e instantâneo nojo da "inteligência" pátria. Descontadas as excepções (ler o João e o editorial da Sábado desta semana, sff), Rui Tavares apenas recolhe da "inteligência" elogios.
Quanto ao último e decisivo ponto, não sei se a diferença de tratamento se deve à tradicional duplicidade de juízos acerca das coisas da "direita" e da "esquerda", ou se se deve à vertiginosa queda da decência pública nos tempos recentes, que torna louvável o que, uns anos atrás e com uma fracção da desvergonha, era inadmissível. Sei que os gestos do major e de Rui Tavares não se comparam, e que o João estará errado até ao dia em que concorra a um cargo político e me pague uma viagem ao Havai (fritadeiras e bolsas dispenso, obrigadinho) diz A.Gonçalves no DN.
(O título é nosso)


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