03 setembro 2011

ESPIONAGENS

Sábado, Setembro 03, 2011



REGIÃO DEMARCADA


Parece que, no Verão do ano passado, os serviços secretos portugueses andaram a escutar o telefone do jornalista Nuno Simas, que então estava no Público e agora está na Lusa. A divulgação pública dos rumores não foi inocente: a guerra entre a Impresa e a Ongoing ameaça ultrapassar o nível de corrosão da guerra entre a Impresa e a Sonae em 1989-90. Nuno Vasconcellos, patrão da Ongoing, titular de mais de 20% do capital da Impresa (contra a vontade de Pinto Balsemão), tem ao seu serviço antigos espiões. E daí? O que é extraordinário é ver jornalistas com tarimba embarcar numa guerra com interesses demarcados.
Serve o intróito para explicar a amigos e leitores que me têm escrito sobre o assunto — Não dizes nada? / O tema não o incomoda? — que, de facto, a coisa não me comove. Não lemos (anos a fio) impunemente Graham Greene e John Le Carré. Por outro lado, eu ainda não tinha 22 anos quando um inspector da Pide e a Polícia Militar se permitiram devassar correspondência minha, privada, apreendida de forma ilegal em nome da “segurança” do Estado, para sinalizar e reprimir homossexuais dos três ramos das Forças Armadas. OK. Estamos a falar de 1971. E nem sequer estamos a falar de Portugal, dirão os cínicos. Sim, os factos reportam a Moçambique e ao braço colonial da ditadura envergonhada de Marcelo.
Em Portugal e em toda a parte muita gente é escutada, em particular diplomatas, cientistas, magistrados e jornalistas. Nas democracias, as escutas viram fichas e afinam os perfis dos visados. Nos regimes não-democráticos (o vasto mundo) têm como corolário a cadeia e um cortejo de infâmias. Em Portugal, em 2002, segundo a imprensa da época, nunca desmentida, cinco mil pessoas estavam sob escuta. Porquê a comoção com Nuno Simas? Por ser jornalista? Porque o seu interlocutor era (diz a Sábado) Miguel Relvas? Porque os factos reportam à Era Sócrates?


 


Vasco Pulido Valente, A independência da Madeira, hoje no Público. Excertos, sublinhado meu:

«Num areal de Porto Santo, Alberto João Jardim, de chapéu e tronco nu [não negou que a] Madeira devia ao Estado central 500 milhões de euros. Jardim não negou a dívida, cuja existência não o perturba. O que ele acha imperdoável e provocatório é que lhe peçam o dinheiro e, pior ainda, que se fale nisso em véspera de eleições. Num mundo bem organizado, ninguém se atreveria a incomodar o sereníssimo soberano [...]

Este conflito teórico dura há trinta e cinco anos, sem um resultado visível. Chegou por isso a altura de aproveitar a crise para o resolver. O PS, o CDS e o PSD, em vez de perderem tempo com eleições, podiam perfeitamente organizar um referendo sobre a independência da Madeira. Com certeza que o eleitorado do continente, em troca de não lhe pagar as contas, não negaria ao sr. Jardim a liberdade de se arruinar como ele quisesse e de fazer uma constituição que ele aprovasse (como não aprova a nossa). E com certeza que o eleitorado da Madeira (com a presumível excepção de Vicente Jorge Silva) não negaria ao simpático Jardim o privilégio de gastar tudo o que lhe apetecesse e de combater a Maçonaria e a internacional socialista com o seu espírito borbulhante, até agora contrariado e contido pelos conspiradores de Lisboa. [...]»

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