05 janeiro 2009

TEMOS A OBRIGAÇÃO DE DIZER A VERDADE AOS PORTUGUSES

http://blogoexisto.blogspot.com/2009/01/temos-obrigao

Cavaco alertou os seus insensatos súbditos para o contínuo aumento do endividamento do país ao longo dos últimos dez anos. Qual será a causa do fenómeno? Terão os portugueses perdido o juízo, ou haverá outra razão para ele?Comecemos por perguntar-nos se terá ocorrido algo extraordinário na última década. Olha, é verdade: aderimos ao euro.E que relação terá essa circunstância com o nosso endividamento? Tendo em conta as carências do país, era previsível que a descida da taxa de juro iniciada no final dos anos 90 incitasse o Estado, as empresas e os particulares a recorrerem mais ao crédito. Foi isso que aconteceu.No passado, o excesso de endividamento externo resolvia-se aumentando a taxa de juro e desvalorizando o escudo. O país padecia durante um ano, mas, depois, as coisas regressavam à normalidade. Era uma espécie de operação ao apêndice: desagradável, mas eficaz.Agora, porém, como estamos no euro, não podemos fazer isso. E, como a taxa de juro é fixada em função da situação do conjunto da zona euro, e não da nossa, estamos privados de política monetária própria.Restaria então a política orçamental. Ao cabo de seis anos, o Estado português conseguiu conter o aumento do seu endividamento (um défice de 2,5% com uma inflação da mesma ordem significa que, em termos reais, o endividamento não aumenta).Logo, o Estado fez a sua parte, mas as empresas e os particulares continuaram a endividar-se.Resta a possibilidade de as contas do Estado gerarem um excedente suficientemente grande para compensar o endividamento privado. As contas são facéis de fazer: temos este ano um défice orçamental à volta dos 2,5% e um défice da balança de transacções correntes da ordem dos 8,5% que, a não ser compensado por investimento directo estrangeiro, terá de ser financiado por empréstimos. Logo, o problema resolver-se-ia se o Estado conseguisse um superavit de 6%.Para isso, o Estado poderia aumentar os impostos num valor equivalente a 8,5% do PIB, ou, alternativamente, reduzir a sua despesa no mesmo montante. Utilizando um multiplicador moderado (qualquer coisa como 1,5), decorreria daí uma quebra do PIB da ordem dos 12%. Não é exagerado prever que o desemprego ultrapassaria os 20% da população activa.Por outras palavras: para além de ninguém saber como é possível um corte na despesa pública desta ordem, a eventualidade da sua concretização lançaria o país na ruína e no caos.Chegamos então à tal verdade que os portugueses precisam de compreender. A adesão ao euro foi, nas circunstâncias em que ocorreu, uma enorme insensatez, agravada pela elevada paridade atribuída ao escudo para ajudar o PSD a ganhar uma eleição que, afinal, até perdeu.Para agravar mais a situação, o primeiro-ministro Cavaco Silva criou um mecanismo de progressão automática na carreira dos funcionários públicos garantindo que a massa salarial cresceria mesmo quando eles não fossem aumentados. Isto sem falar de que usou os dinheiros europeus para comprar o apoio das múltiplas corporações económicas e profissionais que mantêm o país refém.Por outras palavras, Cavaco Silva fechou o cofre à chave e deitou-a fora. Agora, acusa-nos de não sermos capazes de abri-lo.Se o actual Presidente tivesse a integridade intelectual e política de Alan Greenspan, reconheceria os erros que cometeu e pediria perdão por eles. Não sendo esse o caso, candidatou-se à chefia do Estado e usa o lugar que ocupa para nos pregar sermões.No estado a que as coisas chegaram, o Estado português pouco pode fazer para facilitar e acelerar o processo de transição para uma nova estrutura empresarial mais competitiva. Resta-lhe dar tempo para que os mercados façam o seu trabalho, processo em que já consumimos toda a presente década e que ainda não sabemos ao certo quando estará concluído.Eis a triste verdade que Cavaco Silva não tem coragem para reconhecer..
Publicada por João Pinto e Castro e aqui btranscrito (com a devida vénia - a quem sabe do que fala)
(Na foto supra, Cavaco Silva e a sua super competente Ministra das Financas...) «0s sublinhados são nossos»

3 comentários:

Lacão disse...

Não se percebe quem escreve tão autorizada opinião se o Sr. Barroso ou tal de Pinto e Castro. Seria interessante que o sr. que supostamente tanto sabe nos explicasse
1) quais teriam sido as consequeincias para a economia nacional da não adesão ao Euro (em particular na situação actual);
2) Se o problema foi do actual PR o que é que andaram fazer os governos que lhe sucederam, pois já lá vão 14 anos!

A. A. Barroso disse...

Pois, Sr Lacão, o autor do comentário esté bem identificado. E escusava de irozinar com isso. Eu limito-me a aplaudir e a reforçar a ideia das especiais culpas do Prof.Cavaco e sua competente Ministra das Finanças, aquele sem grande moral para agora fazer pregações.Há quem renha boa memória. Consequências? Com mais ponderação e sem regabofes. eleitoralistas poder-se-ia ter feito mmelhor!Os aumentos exponenciais da despesa pública fora determinados nesse tempo, assim como o poder das corporações que passaram a ditar o rumo de muita coisa. È a minha opinião que poderá ser refutada... mas não muito...

Lacão disse...

Sem ironia, e sabendo que qualquer opinião pode ser refutada à medida de quem achar necessario, refiro o lugar comum que sempre se pode e poderá fazer melhor.
Já percebi que o Sr. vive nos Açores e confesso que desconheço a realidade dessa região, mas asseguro-lhe que a vida aqui no continente mudou muito com a passagem de Cavaco pela governação deste país: passámos de um de uma situação eminentemente rural, tipo Albania, tipo ainda na idade média, para uma situação que julgámos ser europeia. Obviamente que esta transformação, no meu ponto de vista muito positiva, carecia de continuidade, em politicas,reformas e construção, que não existiu em absoluto. Reconheça-se o trabalho único deste homem, despreze-se quem se seguiu pela incapacidade e visão de fazer o que quer que fosse para acompanhar uma evolução que este povo, talvez, merecesse.