17 dezembro 2010

DEPENIQUE MAS NÃO SE EMPANTURRE






Em 2004, um soldado americano tornou públicas fotografias de abusos (em muitos casos, tortura) cometidos por colegas seus sobre presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib. As fotos eram aquele caso de vazamento (tornar pública matéria sigilosa) que, apesar de conseguido de forma ilegal, era completamente legítimo. Não sei se o soldado podia, sei que devia denunciar as torturas. Mas, sobretudo, aquela denúncia teve outra vantagem. Era um documento claro, sem ambiguidade no que mostrava. As autoridades americanas ainda tentaram minimizar - por exemplo, aquele fio que amarrava os testículos de um preso não estaria ligado à electricidade... - mas as fotos e os dados básicos sobre elas (datas, locais e nomes) permitiam que elas fossem provas que leigos (nós todos que lá não estivemos) podiam entender. O julgamento, as condenações dos torturadores e os testemunhos (por exemplo, um torturado disse que o fio electrocutava mesmo) já foram meros pormenores. Daqui parto para os vazamentos do WikiLeaks (mas também podiam ser as confidências de um cabo da GNR na Amareleja): quero ver o filme todo. Não me importa que ele seja grande, mas quero-o claro. Por exemplo, hoje, os voos que passaram em Portugal, vindos de Guantánamo. Iam, com consentimento português, para países que os acolhiam ou iam para os que os torturavam? Se houve destes últimos é o que importa saber. Se houve é muito grave para o Governo português. Houve? Depenique não se empanturre - Opinião - DN

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