17 dezembro 2010

OS SEGREDOS DO SEXO

Terá o sexo tantas virtudes como as que nele projectamos? O que é que o sexo puro e duro – frequente em relações ocasionais e descomprometidas – esconde atrás de si?
A manutenção da ilusão de plenitude, nem que seja só à flor da pele. Mas também o reverso da medalha: o modo como se vive a sexualidade espelha facetas nossas que teimamos em não ver; a urgência, o desespero e a fúria com que se conduz a vida, um sentimento de si frágil, o medo de ser rejeitado e a incapacidade de ter intimidade são trazidos à luz da consciência quando estamos corpo a corpo ou em contacto com o nosso corpo. A nossa libido, que tem o poder de pôr a nu o que está para além da pele e nos convida a mergulhar nos nossos segredos mais profundos.
Viver desconectado dessa parte selvagem, que nem todos conseguem transformar e transcender, pode estar na base da maior parte dos complexos e disfunções sexuais. Um estudo da Sociedade Portuguesa de Andrologia mostrou que oito em 100 mulheres simulam orgasmos, mais de 30 por cento queixa-se de falta de desejo.“As mulheres com problemas sexuais apresentam mais pensamentos de fracasso e desistência, associados a desilusão, culpa, irritação e insatisfação.” A conclusão é do psicólogo Pedro Nobre. No seu livro "Disfunções Sexuais: Teoria, Investigação e Tratamento", que também inclui os problemas masculinos, salienta a importância que as variáveis psicológicas têm no funcionamento sexual. Ou seja, o sexo é o que dele (ou a partir dele) fazemos. E nem sempre vamos longe. A ausência de uma vida sexual activa (a solo ou com companhia) é incorrecta – ela é receitada pelos médicos para a saúde como a pasta dentífrica para a higiene oral.
O filósofo francês Pascal Bruckner surpreendeu com a ficção "O Amor ao Próximo", que propõe uma tese inédita: em última análise, e por mais amoral que pareça, o sexo pode ter uma função redentora e sagrada. Ele vai ao encontro das mais recentes pesquisas sobre a química da paixão, que apontam o amor como o grande afrodisíaco, que ultrapassa a simples atracção física. Aos poucos, a nossa libido começa a ser vista com outras lentes, outros significados e funções, que nem sequer têm de começar ou acabar… na cama.

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