27 junho 2011

SENHOR DOUTOR... DA MULA RUÇA


                                                                                 


De visita a uma feira, Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia, Emprego e Obras Públicas, reagiu ao tratamento protocolar de Senhor Ministro. Contou um episódio passado em Oxford, onde os professores se tratam por Bill e Eddie, afirmando querer ser tratado simplesmente por Álvaro. Marcelo Rebelo de Sousa não deixou passar a oportunidade para (com razão) ironizar: Imagino o motorista: Álvaro, vamos para o ministério ou bebemos um café?
Portugal é o único país da Europa, sendo as excepções do vasto mundo o Brasil e Angola, em que toda a gente é tratada por doutor. Basta ir a um seminário para verificar que só os participantes portugueses têm a identificação antecedida de grau académico, motivo de anedotário entre pares estrangeiros. Cá dentro o ridículo atinge o paroxismo, com alguns a puxar em directo na televisão os galões à cátedra. Miguel Frasquilho tem sido vítima de um colega seu de partido que (ele o diz) até é prof e está sempre a invocar essa condição. O estado de Graça de que está a gozar o novo governo releva do brilho dos currículos académicos de alguns nomeados. Poucos se preocupam em saber se vão ter estaleca para nos tirar do buraco: são doutores, isso basta! Num país em que colunistas generalistas assinam “Fulano, jurista” ou “Beltrano, historiador” (numa assunção clara de falta de autoridade do nome), Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia, Emprego e Obras Públicas, tem pela frente um longo caminho. O país dos bachareis de Camilo deu lugar ao país dos doutores da mula russa. Proponho que o senhor ministro Santos Pereira faça aprovar em Conselho de Ministros uma norma que, em matéria protocolar, nos equipare ao mundo civilizado

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