Num bom programa de rádio, ouvimos
citar uma frase do humorista Millôr Fernandes: "Toda a "A alegria já vem embrulhada
numa tristezinha de papel fino." Millôr é um poeta das piadas, nunca gargalha,
ri mansinho e fundo. Ainda ontem, mais tarde, empurrado pelo jornal espanhol El
País, cheguei a um jornal eletrónico de economia e política americanas, The
Daily Stag Hunt, que leu as atas das reuniões de quem manda nas economias
ocidentais, a Comissão de Mercado Aberto da Reserva Federal (FOMC, na sigla
americana). O estudo vai do começo do milénio ao fim de 2006, os anos em que
cresceu a borbulha imobiliária, os empréstimos disparatados que levaram, em
2007, ao começo da Grande Depressão que vivemos. Mas o Daily Stag Hunt não fez
mais uma análise económico-financeira (ou, se calhar, fez, mas desta vez a
sério): dedicou-se a contar as gargalhadas nas reuniões do FOMC. Fez gráfico
disso e mostrou que a média das gargalhadas foi, em 2001, de 16,5 por reunião, e
depois foi crescendo, crescendo como a bolha que nos perderia, até chegar a um
pico de 65 gargalhadas na sessão de outubro de 2006 (que coincidiu também com o
pico dos preços das casas - a partir daí, foi o descalabro). Quer dizer, os
economistas são como todos nós, capazes de ver que um navio que vai a caminho de
um iceberg não naufragou. Mas para adivinhar para lá da neblina é preciso um
Millôr, um sábio da vida.» [DN
24 janeiro 2012
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