14 junho 2009

A LUCIDEZ DE PAULO PEDROSO

O PS tem uma leitura do sistema político que se revelou verdadeira até hoje e que estas eleições Europeias não permitem que se diga que deixou de ser verdadeira. As legislativas é que o farão. Essa leitura assenta muito no princípio de que a esquerda está bloqueada e quem à esquerda quiser o País governável acabará sempre por votar PS. De algum modo esta votação do Bloco significa que o eleitorado começou a desbloquear a esquerda. Mas com toda a sinceridade, o que parece é que o Bloco não percebeu esta nuance. O Bloco teve um eleitorado que não corresponde ao que Francisco Louça disse agora numa entrevista em que volta a fazer cavalo de batalha de tirar Portugal da NATO, tirar os militares do Afeganistão... Penso que o eleitorado vai começar a fazer perguntas ao Bloco.
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O PS talvez tenha tido displicência em relação à esquerda. Há uma certa modernização que é necessária, os partidos à nossa esquerda serão sempre forças de bloqueio e o eleitorado acabará por nunca os premiar. E quer queiramos quer não o que as Europeias vieram dizer é que esta tese sobre a esquerda bloqueada pode estar a ficar ultrapassada. É uma das actualizações que o PS tem de fazer. Perceber que há mais de 20 por cento dos eleitores que podem votar à esquerda do PS, com isto tornado o País ingovernável se nada mudar.
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Eu penso que é mais saudável para o sistema democrático português que haja um grande partido do centro-direita e um grande partido do centro-esquerda do que haver dois partidos que o eleitorado não consegue distinguir e que disputam o centro quase como se fossem irmãos gémeos. Dito isto, eu penso que seria um erro para o sistema político que o PS tentasse ser o partido do centro-direita, do centro e do centro-esquerda. Não. O PS tem de ser o partido âncora da esquerda que tenta conquistar o centro.
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A principal prioridade para a próxima legislatura do PS deve ser a qualidade de vida das classes médias e o combate à desigualdade. As classes médias sentem-se absolutamente estranguladas e exploradas. O PS, pela sua própria origem sociológica, só será um partido forte se for um partido intimamente preocupado com o que são as aspirações da classe média. O que aconteceu nas Europeias, além do mais, é este abandono das classes médias urbanas do PS e esse abandono é muito mau a prazo para o PS.
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Se me perguntassem se era possível o PS ter tido 44 por cento nas europeias de 2004 e agora ter tido 26 por cento eu diria que era impossível. O que podemos dizer sobre isto é que a história das tendência eleitorais torna muito mais difícil. Passar dos 26 por cento para uma maioria absoluta não temos nenhuma experiência na nossa história democrática. Com os pés bem assentes na terra não é o resultado mais previsível. E isso só acontecerá se o PS nestes quatro meses der aos portugueses um argumento fortíssimo sobre a governabilidade do País com maioria absoluta e a ingovernabilidade do País sem maioria absoluta.
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Fui muito criticado pelos meus camaradas por ter dito há um ano atrás que para mim até o Bloco Central é admissível. E ainda penso assim. Porque nas actuais circunstância, um Governo minoritário seria um Governo mendigo e uma coligação à esquerda não me parece possível. Por isso é que acho vital para o País uma maioria absoluta, prefiro que seja do PS, mas também acho que o País não pode ficar ingovernável. Costumo dizer que o Bloco Central é o pior cenário à excepção de todos os outros que se desenham neste momento. Aquilo que eu mais temo neste momento é que o resultado eleitoral deixe um País com uma baixíssima governabilidade, no meio de uma crise internacional. Estou pessimista nesta matéria.
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É pena que PAULO PEDROSO queira limitar a sua acção ao sector autárquico, para mais concorrendo numa autarquia onde o PCP pontifica (Almada), o que podendo constituir um desafio... não garante que existam ali condições objectivas de penetrar na carapaça ideológica do facciosismo leninista que aquele partido instala nos "seus territórios".
Agora um miminho final:
Lisboa menina e moça - Carlos do Carmo
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