05 novembro 2011

REFERENDO GREGO


A chancelerina Merkel fez anteceder a sua participação na cimeira do euro –  de um mandato imperativo do Bundestag sobre essa negociação com outros 16 Estados, dos mais fortes do continente. Ora um mandato imperativo de um parlamento nacional antes de uma negociação entre Estados ou é uma má prática interna ou um acto de força externo. Até Sarkozy fez que não percebeu o sinal, entretido com a Líbia como Napoleão III com a Argélia. Todos acharam natural. Porém, quando o primeiro-ministro grego anunciou, paradoxalmente, é certo, que ia recorrer a um referendo sobre o acordado, os mesmos, mais a Alemanha, ficaram escandalizados. Ambos os episódios anunciam em conjunto o regresso à política nacional na arena internacional. Para o bem e para o mal.
Papandreu pretendeu clarificar a vontade maioritária dos gregos sobre uma nova vaga de medidas de austeridade acordadas na referida cimeira, agora com a presença física em Atenas de uma brigada de fiscalização da troika. Não se esqueça que a oposição de direita na Grécia não tem a mesma prática de ‘patriotismo’ colaborante com o governo que se proclama entre nós como um imperativo. Votam sempre contra o governo do PASOK.
Os gregos não têm a mesma natureza passiva que o ‘Le Monde’ atribui aos portugueses perante a austeridade. Depois do conflito mundial, lançaram--se numa guerra civil sem mandantes nem procuradores. O consenso nacional dos gregos resume-se ao alfabeto e ao helenismo. Mesmo a Igreja Ortodoxa oscila no seu pedestal. Só a democracia os pode congregar. Foi pois lamentável e indecorosa a reacção franco-alemã ao anúncio do recurso ao referendo grego. Papandreu não é criatura de ninguém, mas Merkel e Sarkozy não vão encontrar melhor interlocutor em Atenas do que ele.
A UE já teve melhores dias económicos. Financeira e monetariamente, anda, literalmente, aos papéis. Internacionalmente, o seu peso diminui, e, pior do que isso, o seu próprio prestígio declina. Só lhe sobra assim o recurso à legitimação democrática dos seus Estados-membros para se fazer e refazer. Salvaguardar este espaço de liberdade e de democracia é ainda o maior recurso político para o futuro. É o verdadeiro santuário da UE

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